PT- BR
A minissérie Zero Day, estrelada por Robert De Niro, expõe de maneira brilhante como o poder público gerencia informações em meio a crises. No quinto e sexto episódios, fica evidente a forma como a imprensa recebe e dissemina as informações de acordo com a narrativa conveniente ao governo – sem contestação. Isso me trouxe de volta aos 12 anos em que trabalhei na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Nunca houve mentira nas respostas oficiais, mas a escolha do que responder quase sempre favorecia a visão do governo. Se um jornalista perguntava A, a resposta quase sempre era B – conectada ao tema, mas sem entregar exatamente o que se buscava. Isso chama-se estratégia. E é nesse ponto que a imprensa deveria atuar de forma mais crítica. No entanto, o que vi na maior parte do tempo foi a aceitação passiva dessas respostas, sem contestação, sem investigação aprofundada.
O jornalismo sempre foi – e deve continuar sendo – o principal antídoto contra narrativas oficiais enviesadas. Mas em uma era onde desinformação viraliza nas redes, essa função se torna ainda mais vital. O desafio não é apenas relatar fatos, mas questioná-los, confrontá-los e contextualizá-los. Sem esse filtro crítico, o risco é termos um jornalismo que, em vez de informar, apenas amplifica discursos prontos.
Mudou algo desde que deixei a SSP/SP em 2017? Não sei. Mas espero que sim. Porque a imprensa não pode ser refém da versão oficial dos fatos. Se queremos um ambiente informativo mais seguro, o caminho passa pelo ceticismo saudável e pela busca incessante pela verdade.
